Podia estar aqui horas (páginas?) a dizer-vos porque o Pharrell é um verdadeiro ídolo para mim. Pela forma como conseguiu transformar-se no – pelo menos para mim – G.O.A.T. que é, tanto como produtor musical, cantor/rapper, designer de moda, trend setter, diretor criativo e tudo o que faz pela arte e pela cultura. Mas sobretudo como ser-humano. E ontem, meus amigos, foi a prova provada de que a pessoa que eu cresci a idolatrar continua a fazer por isso. Ah! E de que vale sempre a pena irmos atrás dos nossos sonhos, mesmo que as odds não estejam a nosso favor.
E é exatamente por aqui que a sua talk começa. As odds não estavam a seu favor mas isso não o impediu de alcançar os seus sonhos.
Pharrell nasceu e cresceu em Virginia Beach, um estado que não estava no mapa da cena musical. Mas a sua paixão pela música não o fez desistir, pelo contrário. A procura e descoberta por fazer música continuou: criava, testava, experimentava, mesmo só com um keyboard Casio muito limitado. Isto não o limitou, mesmo sem previsões de que a sua visão fosse algum dia vista, quando a oportunidade apareceu, ele estava pronto. Como se estivesse estado à espera daquele momento a vida toda.
O produtor Teddy Riley, que já tinha trabalhado com grandes nomes da música como Michael Jackson, originário do Harlem, mudou-se para Virginia Beach porque o seu irmão tinha morrido num tiroteio no bairro onde moravam. Efeito Borboleta, much?
E em Virginia Beach, montou o seu estúdio nada mais nada menos do que na porta ao lado do liceu onde estudava Pharrell. E para o artista, ironicamente, não foi 5 anos antes ou depois dele andar no liceu. Foi no exato momento onde estava lá. Destino? Universo? Serendipity? Pharrell diz-nos que isto não foi ao acaso.
Teddy começou a promover talent shows para conhecer os artistas locais e… Pharrell estava lá. Tinha-se preparado para este momento a vida toda. E quando chegou a oportunidade, ganhou o concurso e tinha assim sido descoberto um dos maiores artistas da nossa era.
Bottom line: fazermos o que nos apaixona, não desistirmos mesmo sem um rumo aparente, vai polir o nosso talento e preparar-nos para quando a oportunidade chegar, irmos buscar o que é nosso, o que estava guardado para nós.
A FORÇA DA MANIFESTAÇÃO E DO ACREDITAR
Depois de percebermos como tudo começou, o vencedor de 13 Grammys, fala-nos de outros aspectos da sua infância e de como a disciplina e a imaginação, o fizeram chegar onde chegou hoje.
Na infância, Pharrell não tinha possibilidades de ter aqueles ténis Vans ou Jordan que os seus amigos usavam, mas a imaginação calçava-o: “eu imagina estes ténis em cores vibrantes, como amarelo e vermelho. Trinta anos depois, consegui criar esse tipo de versões, através de uma parceria com a Adidas.”
Disciplina: Pharrell era apaixonado por música e por skate. My name is skateboard P.
Conta-nos que não era o melhor a fazê-lo, mas a vontade de querer conseguir fazer uma manobra, ensinou-lhe disciplina. Depois de muito tentar, quando conseguia acertar numa manobra, isso significava o “mundo para si.” E esta sensação de recompensa ensinou-lhe que se formos disciplinados a tentar fazer aquilo que queremos, a sensação quando conseguimos vale ouro.
Imaginação: Pharrell é um fã assumido de Star Trek, vêmo-lo muitas vezes a fazer o célebre gesto com as mãos.
A série estimulou a sua imaginação, sem precedentes. Quando as personagens descobrem novas espécies e novas realidades, fizeram-no pensar que existe muito mais para além daquilo que conhecemos e isto fê-lo sonhar enquanto criança. Obrigada, Star Trek.
THE AMERICAN DREAM
A análise anterior, levou Pharrell a falar-nos sobre o que é o que se diz ser o American Dream e o que este deveria realmente ser. Ao longo da vida foi-nos dito que o sonho americano era sobre fazer o máximo possível de dinheiro, mas, o nosso sonho, enquanto seres-humanos não deveria ser este, mas sim: Passarmos o máximo tempo possível a fazer aquilo que gostamos. E foi aplaudido.
E depois, mostrou-nos a sua perspectiva de como o mundo é mesmo bué de cenas.
Se somos apaixonados por uma área, mas por algum motivo não conseguimos fazer exatamente aquilo que imaginamos, só está ao nosso alcance explorar o que está à volta. E isto meus amigos, não é contentar-mo-nos com pouco. Pelo contrário: é ver mais além.
Se somos apaixonados por futebol mas não conseguimos ser jogadores, podemos sempre explorar outros trabalhos relacionados com futebol: ser o treinador, desenhar os equipamentos, ser o condutor do autocarro, filmar os jogos.
“Se conseguires encontrar alguma coisa relacionada com aquilo que gostas, tens agora um trabalho de sonho. E se, pelo caminho, encontrares uma forma de servir outros seres humanos, tens agora um sonho universal de trabalho, que te vai fazer sentir que estás a ser pago para viver um sonho.”
E para ele, é exatamente isto que devíamos ensinar os nossos filhos. Nenhum sonho fica por concretizar se conseguirmos ver mais além. “O verdadeiro sucesso é quando encontramos uma forma de servir a humanidade com aquilo que amamos.”
ARTE E CULTURA
Pharrell não esconde o seu posicionamento em relação à Black Culture. Fala-nos de como a cultura negra ajudou a formar a cultura contemporânea e de como páginas tristes da história podem ser agentes de mudança.
“Nós, afro-americanos, fomos moeda de troca, enfrentámos educação e saúde desproporcionais. Isso marcou-nos durante gerações.”
Ainda, defende que a arte é criada por aqueles que têm visão. Mas a verdadeira arte é aquilo que estes seres humanos especiais vêem. A manifestação física é apenas a representação daquilo que a pessoa vê na sua cabeça. O mesmo se aplica ao empreendedorismo, que é aquilo que é a tua percepção e perspectiva e que te faz manifestar, seja numa frase, numa start-up ou numa t-shirt. E reforça: “a cultura és tu.”
De seguida, usou uma metáfora deliciosa para ilustrar o que nos acaba de dizer:
“A cultura é composta por milhões de pessoas, da mesma forma que o oceano é feito de milhões de gotas de água. Cada gota conta, cada pessoa conta.”
E quando Join Frank Cooper III, CMO da Visa, lhe pergunta se a sua forma de retribuir é a caridade, a filantropia, o empoderamento dos outros e – aqui está a resposta à nossa pergunta – qual é a sua motivação, Pharrell responde:
“Tu és a cultura, és a inspiração; a chama está em ti. Cada um de nós é uma fonte de inspiração. A chama está dentro de nós. Não podemos desperdiçar o nosso potencial. Tens de iluminar, senão és um desperdício de espaço. A nossa vida é um presente. A tua presença é um presente. Por isso o presente se chama… presente.”
SOBRE AS SUAS ONG’S
Pharrell é fundador de duas ONG’s, a Black Ambition e a Yellow, que têm como agenda capacitar indivíduos do seu poder para fazerem a diferença, o que nos deu uma importante lição:
“Estamos sempre à procura de um lugar à mesa. Mas se criares a tua própria mesa, além de teres um lugar, podes convidar quem tu quiseres.”
E aqui falou-nos sobre como o empreendedorismo pode ser o nosso propósito. Para o nosso sentido de justiça, ou para a vida. Especialmente para todos aqueles para quem as oportunidades não foram e não são iguais. *starts crying in english*.
“É tempo de empreender. Para start ups e grandes ideias, vindas de culturas subjugadas terem o seu justo lugar ao sol. Não estamos à procura de igualdade, mas de equidade. E apesar de serem ideias black and brown, não são só para pessoas black and brown. São para todos os seres humanos. Porque… Somos todos seres humanos!*
E esta última frase desfez o meu nó na garganta e finalmente libertou as lágrimas que estava a tentar disfarçar.
SOBRE POLÍTICA
Antes de terminar, Pharrell dá-nos a sua visão sobre o estado atual da nação. Não só dos EUA, mas do mundo. O mais puro “think global, act local” que já vi.
Uma visão que me encheu de esperança e que espero que a vocês, que chegaram até aqui, também sintam:
“O mundo está dividido. Apesar de umas pessoas se sentirem de uma forma e outras de outra em relação à recente eleição, eu apenas me vejo como um mero civil capaz de servir. Quero servir seres humanos; os que mais precisam, as pessoas, os inocentes, os que não têm voz. Eu vou servir, independentemente de quem esteja no poder. Este é o meu trabalho universal.”
Pharrell deu-nos uma verdadeira aula de resiliência, propósito e de como a verdadeira essência da cultura é a nossa capacidade de nos reinventarmos e de retribuir. De como ao ajudarmos os outros, estamos a inspirar e a transformar.
Não consegui entrevistá-lo mas entender, ainda mais, de que o que sinto em relação a este ser-humano tem uma (ou várias) razão de ser, foi como se um sonho fosse validado. E se um sonho consegue provar a sua razão de ser, não está a cumprir o seu propósito? Ontem tive a certeza de que os sonhos se concretizam sim, mesmo que não na forma original que sonhamos.
Mover-mo-nos pelos nossos sonhos, seguir as nossas paixões, ver além das barreiras e continuarmos a fazer aquilo que gostamos prepara-nos para tudo o que o universo nos pode dar. E enquanto procuramos o nosso lugar, podemos ajudar a criar espaço para os outros ao longo do caminho. Há alguma coisa mais Glitter do que isto?
#TheGlitterDream