Mas afinal o que é o sucesso para a Gen Z?

Apesar do que consta no dicionário, este é um conceito que desperta longa conversa e debate entre os que o procuram definir. Sucesso é ter êxito, triunfar, obter bom resultado. Mas o que significa, na prática, ter sucesso na vida?

Diferentes gerações, inseridas em distintos contextos históricos, naturalmente, redefinem esta ideia de acordo com as realidades e desafios que enfrentam. Um Baby Boomer (1946-1964), crescido num período pós-Segunda Guerra Mundial, possivelmente valoriza mais a estabilidade financeira, o casamento, a criação de uma família. Por sua vez, um Millennial (1981-1996) prioriza, em geral, experiências, viagens, qualidade de vida e propósito no trabalho.

Como parte da Geração Z (1997-2012), estou imersa por natureza no universo das redes sociais e o mais comum é ser bombardeada diariamente com conteúdos que podem abalar a torre das prioridades e dos desejos. Descodificando, quero com isto dizer que o facto de sermos digital native e vivermos a par das narrativas servidas online, contribui para nos deixarmos facilmente hipnotizar por uma ideia irreal de sucesso e realização pessoal. Apesar de, cada vez mais, os utilizadores preferirem ver posts autênticos e aproximados da realidade, a internet serve, quase sempre, um prato filtrado e glamourizado em todas as refeições.

O que, se calhar, muitos não sabem sobre a geração Z é que, mesmo sendo o grupo geracional mais familiarizado com as redes sociais e a tecnologia, valorizamos muito a autenticidade, a diversidade e o equilíbrio. Para nós, o sucesso perde os seus alicerces tradicionais altamente associados a estabilidade financeira, conquistas profissionais e aprovação social, e ganha uma interpretação mais coronária: ser bem-sucedido é ser feliz.

Sentirmo-nos realizados, fazermos o que nos faz bem, podermos passar tempo com quem gostamos, ter estabilidade emocional, estar em paz, são tudo coisas que combinam mais com a definição gen-z da palavra. Não vou ser pretensiosa e dizer que não queremos saber de estatuto, de bens materiais ou da nossa imagem, mas se cada um destes pontos fosse um objeto que colocaríamos numa caixa, esta continuaria vazia. Por mais que sejam itens desejados, não têm a capacidade de preencher a nossa vida de maneira plena e significativa. Entretanto, se o mesmo acontecesse com as ideias de amor, de bem-estar e de tempo que referi acima, tínhamos em mãos uma caixa cheia. Carregada de cor, de valor e daquilo que simboliza a verdadeira riqueza. Acho que sucesso passa muito por isto, por ter uma caixa cheia.

Assim, se me perguntarem qual o caminho para o sucesso, a resposta é clara: encher a caixa. E passar uma vida a tentar completá-la é já uma forma muito privilegiada de viver. Não desvalorizo, em circunstância alguma, a procura pelo cumprimento de objetivos pessoais, como ascender profissionalmente ou viajar o mundo, estes são sem dúvida aspetos que nos podem fazer sentir o trago da conquista. Defendo apenas que, no fim de contas, são outras as bandeiras que hasteamos para atracar no porto do real sucesso. Sei, também, que este será sempre um conceito subjetivo e em constante análise, mas posso afirmar que, para mim, depois desta reflexão, acabara de ficar muito claro.

Um bom exercício será questionar: como é, afinal, a nossa caixa cheia?

Beatriz Fernandes
Aluna do 2º ano de Ciências da Comunicação na FLUP e Bolseira Gulbenkian