Faria sentido, em pleno século XXI, produzirem-se filmes que não espelhassem, pelo menos em certa parte, o mundo em que vivemos? Ainda é justificável seguir-se sempre a linha da muito cansativa narrativa padrão que todos já sabemos de cor? A resposta é não.
Felizmente, a indústria cinematográfica é consciente desta urgência de mudança e tem procurado corresponder às exigências de uma sociedade em constante transição. Há uma voz ativa e crítica que tem contribuído para isto. Adivinham? Geração Z.
Questionando as normas estabelecidas, rejeitando conteúdos que vão contra os seus princípios, com sede de transformação, este grupo geracional faz uso da sua maior arma, o digital, para amplificar causas importantes e pressionar o exterior para a evolução. Não hesita em enaltecer produções que sejam exemplares no campo da representatividade, muito menos em cancelar obras consideradas ofensivas.
As plataformas de streaming e os estúdios de produção ouvem os pedidos dos jovens consumidores e começam a desenvolver projetos cada vez mais inclusivos. Ao longo dos anos, por exemplo, foram criadas várias petições online para pedir à Disney que incluísse nos seus filmes personagens, histórias e temas que refletissem as diferentes orientações sexuais, raças, etnias e identidades de género, tendo em conta o enorme impacto mundial que esta companhia tem na cultura. Um exemplo de sucesso destas campanhas foi o filme Strange World (2022) que, pela primeira vez, teve como protagonista uma personagem abertamente gay. A Pixar, por outro lado, fez nascer em Soul (2020) o seu primeiro protagonista negro, explorando temas profundos sobre propósito e identidade.
Embora ainda haja quem discorde destas alterações (sim, há), é imensurável o significado que têm na construção de uma sociedade mais aberta, igualitária e instruída. Se somos o que comemos, o que somos nós tendo em conta que o cinema é alimento da alma?
É da nossa responsabilidade, enquanto espectadores, apoiar o trabalho que se faz no sentido do progresso. Black Panther (2018), Everything Everywhere All at Once (2022), Encanto (2021), The Shape of Water (2017) são apenas alguns exemplos de títulos que destacam a importância da inclusividade, em múltiplos contextos, e que merecem a nossa atenção.
Em complemento, prémios como os Óscares estabeleceram em 2020 os designados padrões de inclusão, que determinam critérios a que as produções devem atender para poderem ser elegíveis para a categoria de Melhor Filme, englobando tanto o elenco como a equipa por detrás. Estas regras, não procuram limitar a criatividade e sim encorajar a uma maior representação no grande ecrã. (saber mais aqui) Muitos acusam os Academy Awards de tokenismo (esforço superficial ou simbólico para incluir membros de minorias como forma de aparentar uma situação de igualdade, sem realmente ter um compromisso genuíno) pela adoção destas medidas mas, até que ponto faz sentido reprovar passos no sentido de mudar para melhor? Embora esta seja uma preocupação válida, a indústria tradicional precisa deste incentivo que pode representar um determinante ponto de partida.
E apesar do caminho positivo que se tem percorrido e da força da Gen-Z no desenrolar dos avanços, cabe ao próprio setor virar a página e escrever a verdadeira narrativa de mudança.
Beatriz Fernandes
Aluna do 2º ano de Ciências da Comunicação na FLUP e Bolseira Gulbenkian
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