O título do artigo não é sobre a novela nem um spoiler ao que vou escrever, é uma tentativa de fazer humor porque vou tocar num assunto que me deixa vulnerável. Ninguém me conhece e se eu me mostrar vulnerável de antemão, já ninguém me vai julgar. Ou vai? Ou… vou eu julgar-me? Ou… Nada. Este artigo é sobre o julgamento.
Para quem não me conhece, olá, sou a Maria João, sou artista, empreendedora, estou a criar a minha marca e sou a minha pior julgadora. Isto realmente, não é importante, porque quero que me conheçam por ser aquela rapariga que largou um trabalho estável para criar um projecto que é sobre a liberdade criativa e a felicidade.
Mas falar do julgamento é uma parte importante da minha história e eu juro que não vos vou maçar. Tenho que começar por dizer que eu sempre quis ser artista. No 9° ano, na altura de escolher, eu sabia que queria artes e sabia que queria ser actriz. Eu queria mesmo fazer teatro. Os meus pais foram maravilhosos, estimularam-me e apoiaram-me muito, fui para uma escola de artes performativas no secundário e mal acabei, aos 17, fui para Lisboa e entrei no Conservatório. Foi aí que começou a minha (sentença) saga. Se fazer teatro me trouxe ferramentas sociais incríveis, trouxe-me também uma capacidade de auto-análise que eu não soube dosear e assim tornei-me a minha pior julgadora.
(Very) Long story (trying to be) short, comecei a duvidar muito de mim, como pessoa, como actriz, das minhas capacidades como artista. E comecei a ser permeável à crítica externa, à interna e a julgar cada movimento nos ensaios, cada momento que tinha em palco. Deixei de gozar do amor pela arte para viver refém do “será que gostam de mim? Será que me acham boa? Será que sou criativa? Será que percebem as minhas ideias?”. Apesar de saber mesmo bem o que queria, questionei tanto, que a dada altura acreditei que não tinha feito a melhor escolha e devia ter escolhido outra carreira.
Depois do conservatório, saí do país, arranjei trabalho numa loja para fazer dinheiro, descobri que era boa a fazer outras coisas e fui viver a minha vida corporate. Foi incrível, o meu trabalho não dependia de ser criativa, só precisava de seguir a visão de alguém, gerir a minha carteira de clientes, ser rápida. Boa a resolver problemas. E fui imparável. Até que…
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Será que estás a fazer o teu trabalho bem? Não és promovida há quanto tempo? Nem aumentada? Será que a tua chefe gosta de ti? És mesmo boa no que fazes ou só tiveste sorte? A empresa era bem mais pequena na altura que te contratou… Se calhar não foram criteriosos.
A síndrome do impostor era tão grande que agravou a minha ansiedade e me deixou disfuncional. E aí, fui confrontada com a verdade. Eu não era feliz naquele trabalho. Na terapia, disseram-me que precisava de produzir serotonina e dopamina, que devia ir correr. Aquilo bateu-me… Nunca fui feliz a correr, porquê que ia ser agora? Corri sim, mas para a loja mais próxima, comprei um caderno de pintura e comecei a pintar aquarelas. Um livro de crianças, mas eu era feliz naquele momento. Os desenhos, a mistura das cores, experimentar vários pincéis, a criatividade fluía. E assim, percebi que tinha passado os últimos 10 anos a negar a minha essência artística. Eu era feliz a criar. Passei a querer fazer outras coisas e comecei a pintar porcelana. Comprei imensas canecas, pratos, travessas numa loja de 2ª mão, tintas próprias e pintei. Criei. Expressei-me através da arte. E que saudades que eu tinha disso. Pintei tanto que deixei de ter espaço em casa para tanta louça, pus as minhas peças nos stories do meu Instagram e perguntaram-me se estava a vender. E aí, peguei na minha bagagem corporate, juntei-a à minha artista e comecei a vender as peças que eu pintava.
Encontrei o meu entusiasmo, criei a minha marca e despedi-me (isto foi muito romantizado, mas falámos sobre isto noutro dia).
Nasci para ser criativa, era isso que me fazia feliz e agora, 10 anos mais velha, não ia permitir que o holofote do julgamento me parasse… Well… nada que vale a pena é fácil e por isso, amigos, eu continuo a julgar-me. Mas a verdade é que aceitei que sou assim. Passei a aceitar o questionamento, os dias piores, os melhores, as dúvidas e passei a ver-me como uma desafiadora e não como uma julgadora.
E isso permitiu-me aceitar que sou artista, e que não importa se desenho bem, se pinto bem ou até mesmo se sou boa atriz. Não interessa. A arte e a criação são sobre a expressão e não há nada melhor do que nos expressarmos, livres de julgamentos.
Maria João Rêgo
#TheGlitterDream