Primeiro Date
Estava sozinha em casa, provavelmente em pijama, e o tédio levou-me a fazer swipes no Tinder como se não houvesse amanhã. Até que, de repente, apareceu um perfil diferente. Não era como os outros – as fotos dele eram artísticas, um tanto misteriosas, mas algo me chamou a atenção. Ele tinha uns olhos verdes claros, quase translúcidos, como dois pedaços de vidro esmeralda, com um brilho que variava entre o mar e a floresta. O seu perfil parecia um tratado de filosofia, cheio de citações de Nietzsche, debates sobre geopolítica e teorias políticas que me faziam sentir que estava a falar com alguém que percebia de tudo. Eu, sendo sapiosexual assumida, nunca me tinha sentido atraída por algo tão… intelectual, mas, de alguma forma, aquilo mexeu comigo. Ele era francês, o que só acrescentava um toque de misticismo, e pensei: ‘Talvez este seja o tipo de conversa que eu realmente preciso.
Arranjei-me em 15 minutos, escolhi um vestido vermelho que abraçava as curvas e descia até aos joelhos, como se tivesse sido feito sob medida para mim. Não era apenas a cor, mas a forma, que exalava confiança e sensualidade. O meu corpo sentia-se irrepreensível e, com cada passo, sabia que estava a atrair olhares. Sapatos de tacão fino, porque quem em sã consciência usa tacões grossos num casamento? Simplesmente mau gosto. O decote, suave mas estratégico, deixava um toque de mistério, suficiente para me sentir sexy sem ser vulgar. Estava perfeita, e sabia disso.
Tive de fazer uma viagem de duas horas, no meu Mercedes slk de 220V kompressor descapotável e digamos que o que era suposto ser uma viagem de duas horas, tornou-se numa viagem de uma hora e pouco. Eu sei que posso ser imprudente, e meia insana e não aconselho a ninguém praticar a vida da mesma forma que eu.
Cheguei, estacionei o carro num parque no meio de uma quinta, onde estava a acontecer o casamento, e fiquei ali, congelada, a pensar: e agora? Como é que vou encontrar esta pessoa no meio de tanta gente? Naquela época, o WhatsApp não era o que é hoje e, honestamente, não sabia o que esperar. Vou reconhecê-lo? Será que ele é giro, simpático… um psycho? O que eu estou a fazer? Só me apetecia murmurar: arghhh no que é que eu me fui meter!! Algo que acontece comigo recorrentemente e, por isso, já lido com isso com mestria. Honestamente, já devia era ter um diploma honorário nisto. Mestrado em “Situações de Merda: Teoria e Prática”. Pós-graduação em “Como Manter a Compostura Enquanto o Caos Acontece”. E, claro, doutoramento em “Sobrevivi e Ainda Estou de Pé”.
A verdade é que já nem me surpreendo. Já vivi suficientes enredos dignos de novela mexicana para saber exatamente quando a história está a ir pelo mesmo caminho de sempre. O problema? Eu sou simultaneamente a protagonista, a argumentista e a audiência que grita “Amiga, não faças isso!”. E, no entanto, lá vou eu, caneta na mão, a escrever o próximo capítulo, como se não soubesse onde isto vai dar.
Mas vá, ao menos agora vejo os sinais e já nem gasto energia a fingir surpresa. Quando a realidade decide repetir-se, só me resta olhar para o céu e dizer: “Outra vez arroz?”
O encontro com Y
Enfim, vamo-nos focar no date.. Ele veio ter comigo, estava de fato, e os olhos? Simplesmente hipnotizantes. Era elegante, magro, e impossível de ignorar. A minha primeira impressão? Girl, not bad at all. Fiquei mais tranquila, pensava “estamos rodeados de gente, nada pode correr mal”. Apresentou-me aos noivos, e a noiva estava deslumbrante de Vera Wang. Começaram as perguntas e a primeira? Bem aquela que eu queria mais ignorar: como vocês se conheceram? E eu senti que não era o momento oportuno para dizer há cerca de 2 horas no tinder e nunca nos vimos em pessoa, mas fazer um wedding crash com um estranho total que conheci há umas horas do tinder estava no meu bucket list de coisas que quero fazer antes de morrer, e por isso pensei porque não?
Então, saiu-me o seguinte: : “Fui a Londres fazer estágio e conhecemo-nos lá e foi bom manter contacto, ele é irresistível”. Sempre em modo, playful e ele sorria maliciosamente olhando para mim, enquanto eu debitava uma enorme história, que ambos sabíamos que não podia ser mais distante da verdade.
A reacção dele? Bem, ele olhou para mim com um olhar malicioso, e aqueles olhos verdes, oh meu deus!!!! Agarrou-me no rosto, puxou-me para perto e sussurrou: “És uma boa mentirosa, mas perdoo-te desta vez”. E sim, esse toque? Subiu-me à temperatura. Eu gosto de um homem dominante. Ele estava a ganhar pontos… Aceita-me como sou, descalibrada, alinha em coisas malucas, posso mentir um bocadinho e fazer a história mais interessante e ainda, depois disto tudo, me agarra na cara e sussurra ao meu ouvido.. Vamos, só dizer, que fraquejei por um breve momento. Mas, quem não?
O casamento foi uma autêntica loucura – um noivo italiano, uma noiva portuguesa, ambos completamente fora da caixa. Ela a dançar um pouco bêbada, um casamento feliz e foi bonito ver a descontração e união dos dois, a celebrar o seu amor com os seus amigos e eu estava ali, completamente deslocada mas a absorver tudo.
A certa altura da noite, eu e o Y escapamos para um canto mais sossegado, longe da confusão, a conversar sob as estrelas. E eis que ele começa a apontar para o céu e a identificar constelações, a falar de astrologia com uma confiança que só quem já leu, pelo menos, três artigos do Co-Star consegue ter.
E eu? Eu já não aguentava mais. Aquele nível de “sei um bocadinho de tudo”, combinado com o meu nível de sapiosexualidade em alerta máximo, estava-me a dar um curto-circuito cerebral. O homem dizia “ali está Órion”, e a única coisa que eu conseguia pensar era “meu Deus, acho que quero casar contigo agora mesmo aqui, ao lado do catering.”
Não, calma, estou a brincar. Sim, estava num casamento, sim, o date estava a ser interessante, mas a última coisa que me passava pela cabeça era casar-me. Especialmente com ele!
Quer dizer, era giro, inteligente, sabia o nome das constelações e tinha aquele charme meio despreocupado de quem já viu meio mundo… mas também vivia em Londres, e eu no Porto. E se há coisa que aprendi, é que relações à distância são como promessas de Ano Novo: começam com a melhor das intenções, a toda a força, mas acabam nos mesmo velhos hábitos – na frustração e mensagens por responder.
Ele não só era super inteligente, mas também tinha um lado sensível e romântico que me conquistou. Quando ele me ofereceu o casaco e ficamos de mãos dadas, algo nele me fascinou. A química foi imediata, e quando ele perguntou se queria passar a noite com ele, a resposta foi clara. E sim, por mais que eu queira estar no controle, havia algo tão irresistível naquele momento que simplesmente deixei acontecer, passamos a noite a dormir agarrados e no dia seguinte, acordei a pensar que voltava para casa, a descansar da loucura do casamento e a preparar-me para contar mais um episódio exótico às minhas amigas – um conto maluco que começara com um olhar, passara por constelações e terminado com um “quem sabe o que poderia ter sido”. Ele ia para Lisboa, eu regressava ao Porto e a história, como tantas outras, morreria no ar.
Mas então… o inesperado aconteceu. Quando ele, com uma calma enigmática, lançou-me um “Queres vir comigo para Lisboa?”, o meu coração saltou como se quisesse fugir da rotina. Aquela pergunta, dita num tom repleto de mistério e expectativa, fez-me repensar tudo aquilo que julgava saber sobre o futuro.
Aquelas palavras ficaram a ressoar na minha mente, não como um mero convite para um flerte de uma noite, mas como uma proposta de aventura, de mergulhar num desconhecido repleto de possibilidades. De repente, o que eu tinha pensado ser mais uma história passageira transformou-se num enigma tentador, com um potencial que me desafiava a abandonar a segurança do planeado.
E quem me conhece, sabe… Que talvez seja essa a forma de ganhar um lugar no meu coração…
Lá estava eu, a olhar para ele – aquele sorriso enigmático, aqueles olhos verdes que pareciam prometer mundos inteiros – e o tempo pareceu pausar. Num único instante, entre o impulso de fugir e a vontade desesperada de descobrir até onde essa loucura nos poderia levar, senti algo em mim gritar: “Atreve-te!”. Ele era um enigma, uma promessa de algo que eu nem sabia que procurava… ou, talvez, algo que sempre esteve à espera de ser descoberto.
A vida tem mesmo essa capacidade de nos surpreender, de nos lançar em caminhos inesperados. E naquele exato momento, percebi que a história que eu pensava que estava prestes a terminar estava, na verdade, apenas a começar – pronta para desafiar as regras, reescrever os meus planos e, quem sabe, transformar o impossível em realidade.
Segundo dia, date com Y – continuação na próxima semana.
#TheGlitterDream