Este conceito, de romanticizing life, que ganhou popularidade principalmente no TikTok, sugere que se olhe para pequenos momentos do dia a dia como se fossem parte de um filme ou livro. Romantizar a vida traduz-se na ideia de a tornar, no seu natural decorrer, mais especial e significativa, onde o simples som da chuva, cheiro do café ou caminhada ao sol ganham uma beleza cinematográfica, aos olhos de quem o desejar ver.
Pode parecer mais uma trend sem importância da app vizinha do Instagram mas, na verdade, quando aplicada de forma sensata, constitui uma prática inteligente e útil para cultivar hábitos de gratidão, autoestima e mindfulness. Por exemplo, se eu olhar para uma caminhada de 10 minutos à chuva que tenho de fazer para chegar a algum sítio, como se se tratasse de uma cena de um filme, vou assumir-me como a protagonista da minha própria história e já não vou encarar esta obrigação como algo desagradável do meu dia. O mesmo se aplica a estudar, regar as plantas, tratar de burocracias, acordar cedo, ir ao supermercado, esperar numa fila, e por aí vai. Estes cenários monótonos do nosso quotidiano tornam-se mais atrativos quando encarados por uma lente otimista e poética. Mais um ponto a favor da máxima: a beleza está nos olhos de quem vê.
Todavia, já surgiram críticas a este movimento, argumentando que promove uma visão exagerada e demasiado “cor de rosa” da realidade, fazendo com que as pessoas se sintam pressionadas e, até, obcecadas em criar rotinas esteticamente perfeitas. Pessoalmente, acho que é tudo uma questão de equilíbrio e, tal como referi anteriormente, deve ser “aplicada de forma sensata”. Não se pede a ninguém que, de repente, entre por completo num universo utópico onde limpar a caixa do correio se transformou na tarefa mais mágica de sempre. Certo?
Este raciocínio é só uma estratégia simples que podemos adotar para valorizar o momento presente sem estar constantemente a imaginar o que vamos fazer a seguir. Outra vez, diria que é uma ramificação do mindfulness, cujo objetivo é estar plenamente consciente do que acontece, aqui e agora, sem distrações relacionadas com pensamentos e preocupações sobre o passado ou futuro.
Posto isto, devemos romantizar a vida ou será esta apenas mais uma invenção despropositada do TikTok?
Beatriz Fernandes
Aluna do 2º ano de Ciências da Comunicação na FLUP e Bolseira Gulbenkian
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