A Mãe Lê: sugestão de livros para crianças

Categorizar livros por idade é sempre algo que me é muito difícil porque se há coisa que o encanto que a minha filha tem pela leitura me mostrou foi que um livro não tem idade.

Aos dois anos, ainda constrói novas narrativas com o primeiro livro que lhe foi oferecido aos 4 meses, com nada mais que silhuetas de animais a preto e branco, da mesma forma que no verão passado passeou dias a fio um livro de “Rexeitas” fáceis para todos os dias, que estou bem convencida que viria recomendado a senhoras de meia idade na sinopse.

Já se encantou por livros de mesa dos Beatles e de Cães mas a primeira vez que me surpreendeu tinha uns sete ou oito meses, ao pedir-me repetidamente à sua maneira os livros de histórias que guardava no armário. Livros esses, provavelmente indicados para uma idade que ainda hoje não tem. Após muita insistência lá me despedi das folhas íntegras e direitinhas e pousei-os no chão ao pé dos restantes cartonados. Não só não os danificou a brincar livremente com eles horas por dia como os aprendeu a folhear. Trazia-os para o nosso colo e pedia para lermos “taxé taxé taxé” (outra vez outra vez outra vez)
Das primeiras frases que disse e, sem dúvida, a que mais vezes repetia todos os dias: “A mãe lê”. Assim fiz. E aos 14 meses fui novamente surpreendida quando o pai se apercebeu que os sabia de cor. 
Fomos alimentando este bichinho e descobri também eu um encanto pela literatura infantil, que, se me permitem voltar ao ponto anterior, prova mais uma vez que um livro não pode propriamente ser categorizado por idade.

Em todo o caso, tentei. Mas deixo aqui a minha nota que a melhor categoria será seguir o interesse de cada criança <3

Para os muito pequeninos, para se entreterem no carro e carrinho (porque livros darão sempre 10-0 a ecrãs) e para tentarem agarrar e alcançar novas posições:

📚 0-6 meses 🍼

Livros de contraste contribuem para o desenvolvimento cerebral dos bebés ajudando a trabalhar os seus níveis de concentração e visão. Podem ser usados para contar histórias, pousados no chão durante o tempo de tummy time ou para estimular novas posições e na rua nos mais diversos contextos (cafés e restaurantes, por exemplo).

O nosso acompanhou-nos muitos meses para todo o lado. A Benedita simplesmente parava de chorar assim que eu o abria e usávamos muito no carro e carrinho de passeio.

Biblioteca do Bebé, Livros de alto-contraste, de Clementina Almeida.

Aconteceu bater com ele na cara pelo peso e falta de controlo pelo que comprei o seguinte, de pano:
A Festa dos Animais, O meu primeiro livro de pano .

Ofereceram-nos também um de banho deste género que ainda hoje gosta de usar no banho para “pintar” com água e é excelente para explorar o conceito causa-efeito, desenvolvimento visual e cerebral. Livro de Banho Mágico – Primeiros Conceitos

Hoje, compraria este de um autor que adoro, com ilustrações magníficas: Um Miminho Tão Bom de Seng Soun Ratanavanh.

📚 +6meses (ou antes. E até aos 28 pelo menos que é a minha idade e ainda gosto) 👩🏽‍🍼

  • Toda a obra de Chris Haughton é fantástica e apesar de só termos um já nos passaram todos pelas mãos quer em livrarias ou em empréstimos da escola e da biblioteca. São todos fantásticos, mas destaco: Boa Noite a todos.
  • Tal como todas as crianças, o urso luta contra o sono… Está visivelmente cansado mas não admite e desafia ratinhos, lebres e veados para brincar sem sucesso e é eventualmente vencido pelo cansaço. Quer o texto quer as ilustrações fazem com que seja praticamente impossível ler este livro sem bocejar. Desafio-vos! É dos meus favoritos para ler antes de ir dormir.
  • Mamã? conta a história de um mocho que cai do ninho e que conta com a ajuda de um esquilo e uma rã para encontrar a sua mãe. Pelo caminho conhecemos outros animais até ao tão esperado reencontro. Uma história ternurenta sobre amor e importância da entreajuda.
  • Da cabeça até aos pés, prometo, mas prometo que se vão divertir muito! A Benedita ao início não conseguia imitar todas as posições, rapidamente o decorou e foi aprendendo todos os gestos e posições, é super divertido e os primos mais velhos também gostam muito.
  • Recomendo vivamente também este super clássico da nossa wishlist: A Lagartinha muito comilona.
  • Da prestigiada, Helen Oxenbury:”Atenta ao desenvolvimento do seu filho e à relação deste no contexto familiar, foi reflectindo sobre como as crianças mais pequenas se confrontam, querem, necessitam e têm prazer com os livros. Assim, as obras de Helen Oxenbury resultam de uma observação directa das crianças, da sua descoberta do mundo que as rodeia, identificando-se e interagindo com ele (Eu vejo, Eu ouço, Eu sinto), e projectando as suas conquistas (Já sei!). Sobre um fundo branco, as imagens bem demarcadas, muito expressivas e “legíveis”, transmitem um cunho afectivo e lúdico que as torna difíceis de igualar – e a palavra vai surgindo, de uma forma pausada e serena, somente para nomear os objectos e as acções. Em harmonia com esta atmosfera tranquila, não são menos importantes os cantos arredondados destes quatro livros cartonados, feitos à medida dos mais pequenos.”

Editora: Jacarandá

  • Por volta de um ano de idade descobrimos o amor por Rocio Bonilla (relembro que não me estou a guiar pela classificação literária uma vez que o seguinte supostamente seria para maiores de 3 anos e o nosso já precisou de reforço de fita cola para as folhas não caírem de tanto uso.): De que cor é um beijinho, de Rocio Bonilla

Recomendo vivamente nesta fase livros com imagens reais. De animais, alimentos, roupa e objetos do quotidiano do bebé. São um excelente veículo para trabalhar vocabulário e conceitos como cores e números, pequeno/grande, dentro/fora… Possibilidades infinitas: Os aromas da quinta de Adeline Pierre.

📚 Assim que começarem a gostar de histórias. 👧🏼

Sendo que podemos deixar folhear e um livro pode ser lido sentado, deitado, de pé ou aos saltos, bem alto e baixinho, com voz grave ou fininha. Não precisamos de acabar sempre a frase até ao fim nem de respeitar a ordem das páginas… Para mim tal como os livros não têm idade, também não têm regras! Podemos simplesmente descrever as imagens e também pode ajudar muito ler de frente para a criança. Ver a reação nos seus olhos e seguir o seu interesse, sempre. 😊

  • Há livros que fico mesmo feliz por encontrar e este foi um deles. Descobri-o na feira do livro e ainda bem porque nunca ouvi falar dele em lado nenhum. Uma ode à natureza, partilha, entre-ajuda, resiliência e amizade. Dos meus favoritos. Ilustrações belíssimas: Eu sou um cão, de Heena Baek. Uma história muito bonita sobre um cão de uma família, o Pintas. Uma das coisas que mais adoro neste livro é o facto de retratar uma família com estrutura pouco convencional. Não explicam nem mencionam porquê, mas existe um pai, uma avó, uma criança e um cão. As ilustrações são também maravilhosas e são modelos reais desenvolvidos pela autora e artista. Uma homenagem às espécies companheiras das nossas vidas e a relações de amor, dedicação e cuidado, pela premiada autora coreana Heena Baek.
  • Outro muito divertido e favoritíssimo aqui em casa: Pokko e o Tambor, de Matthew Forsythe
  • Um Pequeno Rebento, De Astrid Desbordes. A primeira vez que li este livro chorei. Provavelmente porque foi um presente de aniversário e a minha filha acabava de celebrar o segundo aniversário e é sempre uma altura muito emotiva para mim. Aborda precisamente a parentalidade, crescimento dos filhos e papel dos pais comparando-os a jardineiros: no início diante de um pequeno rebento de qual cuidam o melhor que sabem.  Não podia ser mais bonito e perfeito. Este Natal ofereci-lhe da mesma coleção o “Meu Amigo” e “A Minha Casa”.

📚 2 anos 👧🏼

Por volta dos dois anos, senti necessidade de procurar livros que abordassem as emoções. Esta fase é amplamente conhecida pelos seus desafios, que advêm nada mais do que da dificuldade que uma criança tão pequena sente em gerir e comunicar o que está a sentir… Fez-me sentido trabalhar o tema com recurso também à leitura. São mensagens complexas e que me ressoam a mim também pelo que acredito e espero que sejam dois livros para a acompanhar muitos e longos anos. Lembrando-se sempre que há dias bons e dias maus e que mesmo quando a tristeza chega, podemos dar-lhe a mão e acolhê-la porque tal não significa que não irá embora dando lugar à felicidade.

Onde começa a Felicidade
Quando a Tristeza Chama, Manual de instruções de Eva Eland

Isabel Mouga, A Mãe Lê