A partir do momento em que somos parte de uma incessante sociedade contemporânea, fica difícil encontrar momentos em que estejamos, efetivamente, parados. A não ser durante o sono (e mesmo assim é preciso sorte e, nalguns casos, melatonina), durante a nossa existência raramente depositamos esforço no sentido de nos permitirmos, simplesmente, existir. A pensar na reconexão humana com a natureza, como forma de fonte de inspiração e criatividade, bem como de tranquilidade e desaceleração, surge o conceito de cloudspotting.
Apesar desta ser uma prática muito mais antiga do que podemos imaginar, uma vez que já era utilizada por antigos agricultores e navegadores como forma de orientação, foi em 2005 através da fundação da Cloud Appreciation Society por Gavin Pretor-Pinney, no Reino Unido que surgiu a versão moderna da ideia.
Pretor-Pinney, um apaixonado por nuvens, lançou inclusivamente um livro intitulado The Cloudspotter’s Guide, no qual ensina a apreciar as diferentes variedades, características e significados das nuvens. Reflete sobre como os Hindus acreditavam que as nuvens cumulus (o tipo de nuvem mais fofo, que comparamos a a algodão doce, por exemplo) eram os primos espirituais dos elefantes e em como estes conjuntos de partículas de água podem refletir o nosso próprio estado de espírito.
Num nível mais avançado, o observador pode identificar os tipos de nuvens, que são classificadas com base na sua aparência e altitude. Para já, se a intenção for começar, tudo o que é necessário é um local onde olhar para o céu e uma mente aberta. Relaxar, trabalhar a atenção plena e estimular o lado criativo e imaginativo são alguns dos grandes benefícios desta atividade.
Em Portugal, somos abençoados com paisagens que tornam o cloudspotting um espetáculo único. Seja no Alentejo, nos arquipélagos ou na nossa extensa costa, o que não faltam são sítios bonitos e pacíficos onde observar.
Como forma de contrariar o frenético ritmo das rotinas, a decisão de descomplicadamente se deitar a olhar para cima pode ser no mínimo transformadora. Depois de nos permitirmos encontrar detalhes nas nuvens e, quiçá, em nós próprios, (tal como diz Pretor-Pinney) olhar para o céu nunca mais será o mesmo.
Beatriz Fernandes
Aluna do 2º ano de Ciências da Comunicação na FLUP e Bolseira Gulbenkian
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