Apesar de ser contemporânea à diáspora do Halloween pela Europa, cresci com a maior importância do dia 1, Dia de Todos os Santos, em relação ao Halloween.
Na escola já me mascarava e participava em *todos* os concursos de abóboras criativas. E ficava em 1º em quase todos (não me julguem a mim, julguem o meu signo que me faz ser um um pouco competitiva).
Mas depois chegava o dia 1.
Na minha família (como em tantas outras portuguesas), o dia 1 significava ir à missa e ao cemitério e homenagear aqueles que já cá não estão, pela nossa presença onde jazem, com velas e flores.
É certo que os rituais fortalecem laços, preservam memórias e dão sentido às nossas histórias e identidade coletiva. E acabam por ser uma espécie de terapia de grupo para lidar com a ausência.
O Dia de Todos os Santos celebra a crença na vida eterna. Este é o conteúdo. Mas, convenhamos, a forma não é a mais sexy.
Não quero de forma alguma desrespeitar crenças e rituais (cada um com as suas!) com esta minha heresia, já que também já foram as minhas. Nasci e cresci numa família católica, +- praticante. E este +- é que se de um lado ir à missa era mandatário, do outro, a minha avô Isaura sempre me disse que não precisava de ir à missa para rezar. E adivinhem quem é a pessoa mais católica que conheço?
Quando falo da forma não ser sexy é sobre o peso que carrega este dia. No semblante das pessoas, no próprio ritual. Na energia que paira no ar. É claro que o luto e a lembrança de quem já partiu merecem seriedade e respeito. Claro! Mas também não lhes imprimo menos importância por não mais participar no ritual. Na verdade, participava no ritual não por escolha, mas por osmose. Em criança, nunca tinha perdido ninguém.
Hoje, uma adulta que já viveu as suas perdas, não vivo o meu luto em dias específicos. Na verdade não há nenhum ritual que faça, mas como penso tanto nas pessoas que já cá não estão (e me fazem tanta falta), sinto que vivem em mim. Não é que quem cumpre estes rituais do Dia de Todos os Santos não o faça, atenção, isto é só um Dani adulta vs Dani criança kind of rant.
E o que tem o Halloween a ver com isto?
A verdade é que comecei a mudar esta forma de viver o dia, por começar a sair na noite de Halloween. Escusado será dizer que o dia 1 se transformou no assustador day after.
Há quem seja contra importarmos tradições que não são nossas, algo que não entendo. Porque hey, não celebramos o Natal? Que teoricamente aconteceu em Belém?
O Halloween trouxe leveza e diversão a esta passagem de Outubro para Novembro. Tornou-nos próximos de tradições como as do México, em que no Dia de Los Muertos se fazem as comidas preferidas dos que já partiram, deixando-os em altares cheios de cor, acreditando que durante a noite voltam cá. E sobre esta tradição, aconselho MUITO o filme Coco, da Disney.
Celebremos o Halloween.
E que o peso do dia 1, seja só pela ressaca da noite anterior.
[João, Nuno, Quitó e Mena, celebro-vos sempre que penso em vocês e agradeço a sorte que tive em conhecer-vos e partilhar tantas histórias e boas memórias. Tenho muitas saudades vossas.]
#TheGlitterDream